Ipatinga - 60 anos: infelizmente temos pouco o que comemorar

Um governo sem qualquer credibilidade até tentou oferecer pão e circo para o seu povo comemorar os 60 anos de emancipação, mas tomou vaia.

28/04/2024 21h00

Detentora de um dos maiores níveis de arrecadação do estado de Minas Gerais, tendo um orçamento aprovado para 2024 na razão de R$ 1,4 bihões de reais, a bela e acolhedora Ipatinga chega a sua média idade - 60 anos de emancipação - sem ter muito o que comemorar. Isso é que nos diz o alto índice de pessoas insatisfeitas com a atual gestão municipal, cujas queixas se fazem com total razão.

Quando aqui cheguei, no dia 15 de abril de 1995, o jeito mineiro de ser logo me conquistou. Naquele ano Ipatinga estava comemorando 31 anos de emancipação e mostrava para o mundo o seu grande potencial em desenvolvimento, liderado pela empresa Usiminas. Aqui eu não me sentia uma estranha no ninho, pois passei a conviver numa sociedade formada majoritariamente por pessoas que vieram de outras regiões, não só de Minas Gerais, mas como do País, onde as nossas histórias se coincidiam. "Não fui eu que adotei Ipatinga como sendo a minha cidade, foi ela quem me adotou, através do seu povo acolhedor e confiante" Sempre respondo quando me perguntam como foi mudar de vida, de uma cultura sulista para uma cultura cheia de nuances e adversidades como a que vivemos nesta região. "Quem investe em Ipatinga, não erra". Disse-me um amigo, quando decidi me firmar profissionalmente implantando o meu escritório de advocacia e perícias contábeis, logo ali, na rua Diamantina.

Decidida a entrar para a política em 2018, cativei em Ipatinga a minha principal base a qual mantenho até hoje: uma base sólida e cristã. Desde lá, tenho por hábito andar as feiras, avenidas e vielas, tendo contato direto com o grande público. Nessas oportunidades eu ouço os cidadãos, pessoas comuns do povo, que muitas vezes desconhecem os canais diretos de comunicação com o poder público. Desconhecem porque aqui em Ipatinga, eles não existem.  

Desde 2018, quando acordei definitivamente para a vida pública, percebi o quanto as administrações locais dos últimos anos eram ineficientes, principalmente no quesito transparência e adoção de políticas que de fato atendesse os anseios da população.

Sobrevivemos à uma pandemia, onde todas as mazelas eram justificadas com base no vírus da Covid. Mas nada, absolutamente nada se compara ao que vivemos hoje, às vias de um quarto do século XXI. Escândalos e mais escândalos de corrupção e improbidade administrativa envolvendo a atual administração do Sr. Prefeito Gustavo Nunes. Não sou eu quem diz isso, mas sim, o Ministério Público Estadual, que num dos processos, o  mais evidente, denunciou recentemente seis pessoas acusadas de fraudar a licitação para a locação de um imóvel que está sendo usado para a sede temporária da prefeitura. Segundo o depoimento do proprietário do imóvel, cujo termo está registrado nos autos do processo, do montante de 260 mil cobrados mensalmente, ele usufruía de tão somente 120 mil, sendo que o restante ficava com a empresa que intermediou o negócio. Um escancarado superfaturamento, considerando que nenhuma imobiliária de respeito ousa cobrar mais do que 5% de comissão sobre a locação de qualquer imóvel. Além desta, temos a ação criminal em face do atual prefeito e alguns de seus secretários a respeito da contratação irregular de uma empresa de jornal, uso das plataformas que são mantidas com dinheiro público para promover a imagem (derretida) do atual gesto municipal etc.

Toda essa negatividade reflete de forma nociva nas prestações de serviços públicos, como o é com relação à saúde. A respectiva secretaria foi a mais leiloada nos últimos três anos. Ao todo e desde o início do atual governo municipal, foram cinco os secretários que chegaram a assumi-la. A sensação é que a cada novo acordo político, a cabeça de um secretário rolava. Será que é porque os recursos advindos de outras esferas administrativas, para essa finalidade, como da União, chegam às bases não tão "carimbados" como para outras áreas? O fato é que, a cada inovação, as dificuldades em se dar sequência a um trabalho iniciado era evidente e o continua sendo. Unidades de saúde  superlotadas, obras de reforma destes prédios a toque de tartaruga, falta de profissionais, descontentamento de servidores, falta de medicamentos, falta até mesmo de um lugar humanamente adequado para o paciente se acomodar.

O que me gera maior revolta é quando resolvo acessar os sites de transparências do Governo Federal, sobre os quais tenho maior domínio e vejo que o problema de Ipatinga não é a falta de recursos. Aliás, vocês nunca ouvirão um gestor municipal atual ou antigo falar em falta de recursos

Acessando o site www.transparencia.gov.br usando-se os filtros correspondentes, percebemos que só no ano de 2023, ou seja, do dia 1º de janeiro ao dia 31 de dezembro, a União destinou para Ipatinga e tão somente para a saúde, o montante de 211 milhões de reais. Recursos esses para serem aplicados no custeio (despesas correntes) e em investimentos (obras e compras de materiais de longa duração). Não estou dizendo que esse valor entrou nos cofres públicos da cidade, Deus me livre ser alvo de mais um processo por calúnia e difamação ajuizada pelo Sr. Prefeito, método que ele usa para silenciar os cidadãos. Mas, sem sombra de dúvidas, esse montante foi colocado à disposição da entidade assistencial da saúde para gastá-lo, de acordo com os projetos e planos de trabalho a serem apresentados junto ao Ministério da Saúde. Logo, quase que incompreensível que uma cidade com tal valor à disposição durante o ano executivo, só por parte da União e só para a saúde, ainda obrigue um paciente se acomodar em macas sem colchões, o que já foi amplamente denunciado pelas redes sociais, sem a oposição do mais interessado nesta notícia. Incompreensível também que, mesmo diante de tamanha cifra à disposição, temos a presença de pacientes por anos e anos aguardando uma consulta com especialistas e por uma cirurgia ortopédica, por exemplo.

E nem se diga quanto às famosas emendas parlamentares. Eu mesma fui vítima da má gestão municipal quando vi uma série de recursos encaminhados, principalmente para reformas de praças, sendo devolvidos para a União, por falta de um projeto devidamente aprovado junto à Caixa Econômica Federal.  

E, como o poder público local se justifica diante de tanta negligência junto a esse serviço tão essencial que é a saúde?

Como sempre, lavando as mãos e colocando a culpa no pobre cidadão que não tem nem mesmo como se defender.

Seguindo os moldes de governos anteriores, a atual administração, através de seus interlocutores contratados exclusivamente para esse fim, alega que a superlotação dos serviços públicos e o acúmulo de pendências se dá em razão da vinda de pacientes de outras cidades... Rebato essa afirmação com o seguinte argumento: Ipatinga é a cidade pólo de uma microrregião de saúde, estando obrigada a dar assistência médica e ambulatorial para outros pelo menos 14 municípios e recebe para isso! Diferentemente dos municípios que compõem essa microrregião, a nossa cidade recebe recursos do teto PAB - atenção básica à saúde e teto MAC - média e alta complexidade. Os demais, recebem tão somente o teto PAB. Logo, a nossa cidade, que é dotada de um povo extremante acolhedor, é legalmente obrigada a receber e atender pacientes advindos de outras cidades. Mesmo porque, a saúde é unificada e universal. Não é o paciente de outra cidade que deve procurar outros meios de tratar a sua saúde, é a nossa administração municipal que deve se adequar a recepcioná-lo.

O texto ficou longo e eu nem consegui chegar na série de obras inacabadas, notadamente aquelas relacionadas às contenções de áreas de risco,  na ausência de manutenção de galerias fluviais, o que desembocou  nas recentes enxurradas, na ausência de obras para viabilizar o trânsito, no rompimento inadvertido de uma série de convênios e contratos com entidades assistenciais como creches, na ausência de investimentos na cultura, no corte de linhas de transporte público, na falta de adoção de medidas mais rígidas em face dos maus serviços prestados pela concessionária dos serviços de tratamento de água e esgoto, no acúmulo de lixo pelas ruas, na falta de adoção de medidas eficientes em face da população de rua,  etc.

Um governo sem qualquer credibilidade até tentou  oferecer pão e circo para o seu povo comemorar os 60 anos de emancipação, mas tomou vaia. Quem ali foi, na festa promovida, aproveitou o momento que aconteceria mesmo sem a sua presença e já que estava pagando por isso, mas a grande maioria foi enfática em declarar que preferiria vir as ações mais equilibradas, ou seja: se não falta para festa, não deveria faltar para as outras áreas.   

Num site de transparência que é transparente, ou seja, nada se vê, os cidadãos, na busca por seus direitos, como reclamar a revisão de um IPTU ilegalmente majorado, acaba tendo de que se valer de outros meios para tanto, como procurar os gabinetes de vereadores, que deveriam se ater exclusivamente ao seu dever de fiscalizar o executivo e legislar.

Chego aqui contando sobre as lideranças comunitárias que não conseguem resolver as pendências de seus bairros junto à prefeitura, porque lá simplesmente não são atendidos pelos principais responsáveis - os secretários.   

Enfim, neste aniversário da nossa querida Ipatinga, quem merece os parabéns é o nosso povo e tão somente ele que, mesmo diante de tantas dificuldades, de uma ausência tão grande daqueles que são pagos a partir de seus impostos para manter a roda do progresso girando e não o faz, continua  firme e forte na nossa cidade. Se somos brasileiros e não desistimos nunca, somos ainda mais IPATINGUENSES e daqui não sairemos jamais! 

Por Alê Silva